Resumo:
O desenvolvimento tecnológico desencadeou profundas transformações no mundo do trabalho por meio da flexibilização da mão de obra, contratos temporários, empregabilidade a cargo do trabalhador e instabilidade econômica. Dessa maneira, a organização de trabalho baseada nos modelos taylorista-fordista torna-se cenário para uma série de antagonismos por não focalizar o trabalhador, que utiliza de suas particularidades, no exercício de suas funções laborais. Para compreender como se dá o uso dessas singularidades no trabalho, esta pesquisa apoia-se no viés da abordagem ergológica de Yves Schwartz. O trabalho, sob a ótica da Ergologia, possui variabilidades e proporciona ao trabalhador reformular normas antecedentes a fim de não restringir a simples repetição de técnicas e métodos de trabalho. Portanto, o objetivo geral desse estudo é analisar a complexidade das situações de trabalho dos operários do setor de produção de uma indústria metal-mecânica do interior de Minas Gerais e revelar as estratégias construídas, individual e coletivamente, para cumprir os propósitos da produção. Diante um cenário de profundas transformações no mundo trabalho, esses profissionais necessitam utilizar saberes práticos e/ou (re)normalizar as tarefas prescritas a fim de suprir as deficiências e preencher as lacunas das normas antecedentes, bem como fazer usos de si por si e pelos outros. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e a metodologia aplicada é o estudo de caso na referida empresa. A coleta e análise dos dados estruturaram-se por meio de observações das condições e modo de produção de trabalho e entrevistas individuais semiestruturadas com dez operários distribuídos pelos três diferentes turnos de trabalho. A análise do conteúdo foi utilizada para interpretar os dados obtidos. Dessa forma, nota-se que esses trabalhadores ao praticarem uma postura de suposta aceitação quanto às normas das organizações de trabalho reagem a essas imposições ao fazer uso de si, ou seja, de suas singularidades, motivações, valores e crenças na execução do trabalho prescrito. Percebe-se, nesses casos, que a técnica não consegue ocupar o lugar do ser humano nem tampouco extingui-lo, portanto, é impossível pensar na atividade do trabalho sem que haja a presença do ser humano.