Abstract:
O imidacloprido, um neonicotinóide, é o primeiro inseticida e o segundo agrotóxico mais
vendido no mundo. Devido a sua elevada toxicidade para as abelhas e outros organismos não-alvo, já foi banido de alguns países e teve seu uso proibido na União Europeia. No Brasil, estudos já verificaram sua presença em recursos hídricos em concentrações acima dos valores de referência para proteção da vida aquática em água doce, utilizados pelo Canadá e Estados Unidos, sendo assim passível de causar efeitos subletais nestes organismos. Neste trabalho, espécimes do peixe neotropical Astyanax altiparanae foram expostos a quatro concentrações de uma formulação comercial deste agrotóxico (3, 30, 300 e 3000 μg L-¹) ou apenas à água (controle), por 96 h. A fim de avaliar os efeitos genotóxicos e bioquímicos deste inseticida, amostras de sangue, brânquias, fígado, músculo e cérebro foram coletadas após a exposição. Como biomarcadores de genotoxicidade, a porcentagem de danos ao DNA e a frequência de micronúcleos (MN) e outras anormalidades nucleares (AENs) foram estimadas nos eritrócitos. Como biomarcador de biotransformação, a atividade da glutationa S-transferase (GST) foi determinada no fígado, brânquias, músculo e cérebro. Como biomarcadores de estresse
oxidativo, a concentração da glutationa (GSH), a peroxidação lipídica (LPO) e a carbonilação proteica (PCO) foram quantificadas nos mesmos tecidos. Como biomarcador de neurotoxicidade, a atividade da acetilcolinesterase (AChE) foi medida no cérebro e no músculo. Verificou-se que, dependendo da concentração, este inseticida pode causar alterações no status oxidativo que resultaram em danos oxidativos, como peroxidação lipídica, além de aumento na frequência de alterações eritrocíticas nucleares. Observou-se também que o órgão mais sensível à ação do imidacloprido foi o músculo, indicado pelos resultados dos ensaios de GSH, LPO e AChE, seguido das brânquias (pela LPO e PCO) e do cérebro (GST e LPO). Os biomarcadores mais sensíveis à ação deste neonicotinóide em A. altiparanae foram de GSH no músculo, LPO nas brânquias e de alterações nucleares nos eritrócitos. A concentração que causou mais alterações e danos significativos nos lambaris foi a de 3000 μg.L-¹. No entanto, este resultado refere-se a uma exposição aguda de 96 h e exposições crônicas poderão fornecer resultados mais precisos no que se refere aos danos genotóxicos e bioquímicos do imidacloprido usando o A. altiparanae como modelo de investigação.