Resumen:
O trabalho análogo à escravo, presente na sociedade atual é característico por macular as
relações de trabalho, em nítido prejuízo ao trabalhador e ao desenvolvimento nacional. Por
esse motivo a presente dissertação objetiva compreender a representação social do discurso e
a percepção que têm os servidores públicos e agentes atuantes no combate ao trabalho escravo
no Sul de Minas Gerais, sendo estes: procuradores do Ministério Público do Trabalho e
Federal, juízes trabalhistas e federais, delegado de polícia federal e integrantes do terceiro
setor. Em termos específicos, buscou-se: (i) identificar as atividades predominantes que
exploram o trabalho análogo ao escravo; (ii) analisar a percepção dos atores envolvidos com
relação a possível diferença na resolução de conflitos envolvendo trabalho escravo nas searas
trabalhista e criminal; e (iii) discutir as possibilidades de integralização do combate ao
trabalho escravo entre sindicatos, articulações, Organizações Não-Governamentais - ONGs e
o poder judiciário. Para cumprir com tais objetivos, foi realizado um breve panorama teórico
das políticas libertárias historicamente ocorridas no Brasil, demonstradas por meio das
legislações do período abolicionista que culminaram com o fim formal e jurídico da
exploração de mão de obra escrava no país. O estudo histórico serviu de recorte teórico para
analisar as características da escravidão contemporânea, em especial da forma como ocorre no
estado de Minas Gerais. Acerca dos procedimentos metodológicos cumpre destacar que se
trata de uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, descritiva e documental, tendo sido realizadas
entrevistas semiestruturadas e individuais com os atores envolvidos, em sua maioria lotada no
Sul de Minas Gerais e, dos resultados das entrevistas foi confeccionado o discurso do sujeito
coletivo, nos moldes propostos por Lefèvre (2017), que abarca as concepções centrais
decorrentes das perguntas realizadas. Como resultado, este estudo revelou que o trabalho rural
se destacou como uma das principais atividades identificadas que já exploraram trabalho
análogo a escravo no Sul do Estado de Minas Gerais, como confirmam as análises de dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, juntamente com dados de processos
judiciais e da Secretaria de Inspeção do Trabalho. Constatou-se, pelo pensamento da
coletividade dos envolvidos, que um dos motivos pelos quais o trabalho escravo subsiste é a
desigualdade social, motivado pela ganância humana e, que a divergência de entendimento
entre as searas trabalhista e criminal, não se verifica apenas pelo direito tutelado, mas sendo
necessário o preenchimento de um rol maior de requisitos para configuração do tipo penal.
Ademais, foi possível considerar que as práticas de exploração do ser humano em condições
degradantes, com a consequente perda de liberdade de escolha e de liberdades individuais,
implicam em ofensa à sua dignidade enquanto ser humano, podendo afetar o desenvolvimento
do país, no âmbito social e econômico, com grandes efeitos sobre o mundo do trabalho.